Faleceu neste final de semana em Curitiba aos 102 anos, Dr. ABDON PACHECO NASCIMENTO, figura ilustre que foi da cidade de Antonina, deixando grande legado, seja na sociedade antoninense,seja na área médica do Estado do Paraná. A equipe do site do 29 de Maio, teve o privilégio há 3 anos atrás de fazer uma visita/entrevista com Dr. Abdon e também com Dona Iva, pessoa muito querida que também faleceu em janeiro deste ano.
Fica registrado aqui os nossos sentimentos à família, mais acima de tudo nosso agradecimento a figura e ao legado deixado por esse casal maravilhoso aos seus familiares, amigos e admiradores.
Abaixo, transcrevemos a reportagem que fizemos quando Dr. Abdon completou 100 anos.
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Na data de hoje, 11 de abril de 2010, uma das figuras marcantes da história da Associação Atlética 29 de Maio, bem como da cidade de Antonina, Dr. Abdon Pacheco Nascimento completa 100 anos.
Sem dúvida uma data histórica que merece ser reverenciada, pois a trajetória de vida do Dr. Abdon está acima de qualquer suspeita, seja pela sua importância na classe médica do Paraná, seja pela sua participação dentro da história da Associação Atlética 29 de Maio ou mesmo pelo exemplo de pai de família, de profissional, de um verdadeiro antoninense que venceu na vida e escreveu su nome na história.
REVERENCIEMOS Dr. ABDON PACHECO NASCIMENTO, UMAS DAS MAIORES PERSONALIDADES DA CIDADE DE ANTONINA.
Um feito que este site se orgulha muito de ter realizado, foi uma entrevista com Dr. Abdon, uma possibilidade única para os mais antigos de relembrá-lo e também uma excelente oportunidade para os mais jovens de valorizar e seguir este exemplo de personalidade.
Dr. Abdon Pacheco Nascimento, atualmente morando em Curitiba e no alto dos seus 99 anos anos de idade demonstrou toda sua lucidez ao falar das coisas do clube e também de sua cidade.
Uma figura ímpar que merece ser sempre reverenciada e homenageada, pois para quem não sabe, Dr. Abdon foi presidente do clube entre os anos de 1939 e 1941, sendo por muitos considerada uma das melhores gestões do início da história do clube, tendo no ano de 1940 conquistado o título de Campeão Amador da cidade de Antonina, ficando também entre os melhores do Estado.
Na sua gestão, também foram construídas as antigas arquibancadas de madeira, tendo por isso recebido uma homenagem Especial na Festa do 90 anos comemorada no ano passado, bem como, foi homenageado no 24ºCampeonato de Master, com o seu nome no Troféu de campeão.
Além disso, Dr. Abdon se formou médico, atuando no início da carreira na cidade de Antonina, seguindo posteriormente para a capital, onde tornou-se um dos grandes médicos do Estado, sendo um dos fundadores e o terceiro presidente da Associação Médica do Paraná.
Acompanhe abaixo a entrevista com Dr. Abdon.
Marcio Miguel Tavares/Fabio Miguel Tavares/Lucio Miguel Tavares
Qual foi o primeiro contato que o Senhor teve com o 29 de Maio?
Data bem precisa não sei, mas quando era garoto ainda, já torcia pelo 29. Quer dizer que quando estava em Antonina em 1920, 21, 22….já era vintenoveano.
O Senhor foi eleito presidente pelo 29 em 1939. O Sr.lembra desse episódio em que houve a renúncia do presidente da época e na seqüência o Sr assumiu a presidência?
Não lembro não. O clube era muito movimentado aí o povo que cuidava do futebol era outro. Na época eu me formei e cuidava do grupo da medicina, então não tinha muito tempo para o 29.
E não lembro dessa eleição. Mas depois trabalhei pelo 29, inventei prêmios, fazíamos concursos tudo no sentido de desenvolver o clube, mas temporariamente, porque a minha profissão não permitia, tinha que cuidar mais dos doentes.
A sua gestão em 1939/40/41 é considerada uma das melhores da história do 29, pois o Senhor foi campeão amador da cidade e construiu as arquibancadas de madeira. Como foi a sua gestão?
Bom das arquibancadas eu tô lembrado, inclusive o Friendereich esteve lá comigo. Então nós fomos testemunhas das arquibancadas preparadas no meu tempo. Era um tempo que tudo mundo trabalhava, tinha o Chico Pinto trabalhava muito…. quer dizer o pessoal gostava muito de trabalhar pelo clube ….era gente que gostava muito do clube….eu gostava também , mas tinha pouco tempo por causa da minha profissão.
Eu fiz o que recomenda para uma cidade que está bem, fazia concursos lá, sorteio de prêmios, cuidava das férias (salários) que era importante, cuidava das despesas e aquelas coisas todas, gastos, compras, acho que era mais isso né.
Eu não podia cuidar muito mais das coisas do 29, pois era médico, afinal me formei, seis anos depois eu deixei Antonina, daí praticamente me desliguei do clube.
E o Sr também tinha uma boa equipe para trabalhar né?
Tínhamos elementos de ótima categoria , os Picanço, a família Pinto, entre outros.
Como era Antonina na década de 20,30 e 40. Conte-nos um pouco desse período.
Antonina naquele tempo era outro tipo de cidade por tudo. Pelo comércio, era época dos caminhões de madeira colossais que levavam a erva-mate que iam lá exportar pelo Porto, o Matarazzo trabalhava também tinha bastante negócio, faziam preparar o trigo, preparar o sal, e o movimento de navios pelo porto era o coração comercial da cidade né,
Depois a coisa caiu, agora não sei como é que esta.
O Sr foi considerado o maior orador da história do 29 de Maio (naquele tempo quando o clube viajava em excursão o Dr. Abdon era o orador oficial do clube). Qual a importância da história do 29 de Maio que o Sr sempre ressaltou?
O 29 por tudo era glorioso já…nasceu dia 29 de Maio quando o Brasil venceu o Uruguai. Somente isso já é um símbolo né. É a data do primeiro título do Brasil em campeonato de seleções, era o 29 de Maio. Daí continuou cuidando do futebol com muito cuidado em Antonina. As firmas todas davam muito apoio, todas mantinham empregados jogadores de futebol e tem outra coisa quando tinha jogador bom fora mandava buscar e isso aconteceu com vários jogadores que passaram por Antonina que trazíamos à custa de dinheiro, e não era pouco. Tínhamos jogadores na Seleção Paranaense, tinha o Segôa que foi da seleção, o Edgar também foi, o Olímpio esteve, mas eram jogadores mantidos à custa de dinheiro, não ficavam de graça lá.
Inclusive tinham jogadores trazidos de outro lugar, como foi de Palmeira que vieram dois ou três, de Curitiba mesmo, do pessoal da polícia veio o Segôa, todos eles eram jogadores de Seleção, jogadores de primeira categoria. Nós fomos vice-campeões estaduais em 1940, então o passado do 29 é muito bonito. Mas a gente sabe que hoje não pode contar com isso porque a situação da cidade já não tem aquela economia, antes a própria economia da cidade permitia que se trouxesse jogador, que eram empregados nas firmas, como foi o caso do Argentino na firma Força e Luz, Mullet que foi funcionário da Usina.
Então a maioria recebia renda fixa.
Qual foi a última vez que o Sr foi para Antonina?
Faz 1 ano e meio, mais ou menos.
O sr e seu Joubert são grandes amigos e os vintenoveanos mais antigos do clube. Como começou essa amizade?
Aí é natural, o Joubert é de uma família tradicional de Antonina, da família do centro, e conviveu conosco tanto no futebol quanto em outros esportes, como natação, tudo isso houve uma convivência do pessoal da cidade porque era um pessoal que precisava de distração….porque era um pessoal que trabalhava, um pessoal que ganhava, e um pessoal que podia muito bem trabalhar por um clube de futebol.
O sr foi um dos grandes médicos do Paraná, e um dos fundadores e presidente da Associação Médica do Paraná. O sr é uma das grandes personalidades que Antonina teve. Gostaríamos de saber como era sua relação com Antonina?
Antonina era a terra dos meus pais. Meu pai era de Antonina, e trabalhava numa função dessas importantes, ele era telégrafo, chefe da Agência Postal e Telegráfica …..a gente estava convivendo também com um tipo de pessoal diferente. Porque quem tinha dinheiro sempre passavam lá por casa, pagavam o tributo lá inclusive para manter o telefone para poder falar, isso tudo lá em casa, então o trabalho do meu pai sempre teve reconhecimento né, e eu fui nessa onda até me formar. Mas eu me formei também e fiquei mais uns 4 anos lá e depois vim para curitiba.
Então depois de formado o Sr voltou para Antonina?
Isto, eu me formei e trabalhei em Antonina durante 4 anos.
O sr pode falar um pouco sobre a rivalidade do 29 de Maio e do Atlético Antoninense?
O futebol em Antonina era muito disputado, porque a cidade estava bem economicamente, e tinham times bons, como o 29, bom também era o Matarazzo, o Atlético Antoninense, o Ypiranga, jogavam quase que em igualdade, difícil era saber quem era o melhor, mas tudo era reflexo da situação econômica da própria cidade.
Quais jogadores o Sr destaca na sua época que passaram pelo 29 de Maio?
Segôa, Argentino, que era argentino mesmo veio para jogar em Curitiba e de lá a custa de dinheiro veio para Antonina e foi empregado na firma Força e Luz, tinha um moreno que jogava na meia direita, que jogava na Seleção também, foi para Antonina direto de Curitiba, jogava no Atlético Antoninense, o Edgar, que é da terra, um ótimo jogador, o Dodô um Keeper muito bom, quem mais que possa apontar, tinha uma infinidade de jogadores.
Como o Sr gostaria que estivesse o 29 de Maio ao completar 100 anos em 2019?
Eu gostaria que voltasse aquele tempo antigo , aquelas pessoas que brigavam pelo clube.
E como era participação das famílias, especialmente das mulheres nesses jogos do futebol?
Onde os maridos iam as mulheres também iam, as famílias também participavam.
Obs: A esposa do Dr Abdon acompanhava as partidas do clube, inclusive quando estava grávida, acompanhou o clube numa ensolarada partida entre o 29 de Maio e o Matarazzo no campo do Matarazzo.
Qual o fato marcante que o Sr lembra e destaca na história do 29 de Maio?
Marcante foi a visita do Friendereich, que foi o nosso artilheiro e fez o gol do título do Brasil no Campeonato Sulamericano (atual Copa América) em nosso primeiro título internacional. Então foi um ato solene, diferente dos demais.
Abaixo, a foto do Dr. Abdon e de sua esposa, exibindo as medalhas recebidas da Festa dos 90 anos do 29 de Maio pelos serviços prestados ao clube.
AGRADECIMENTOS
Manoel Gomes Neto (Maneco), Dr. Abdon e Dona Ivi (esposa do Dr. Abdon Pacheco Nascimento).